sábado, 26 de dezembro de 2009

AS COISAS DAQUI

Desbotado o verde de outros campos
Como o azul de um outro mar,
Outros são os povos
Vindos de um outro lugar
Correm traços numa outra feição
Outra é sua História
E outras as histórias são.

Vindas de tão longe,
Umas noutras línguas,
Dirão quem você é
E você é
Por pura imaginação

Belos e frágeis horizontes
Trará em sua cabeça
Morros, deltas, pampas
Ou lugares ainda mais longes,
Que talvez jamais conheça.

Mas e as coisas daqui,
Quem irá cantar?
Se as coisas daqui
Deixarmos pra lá?
Só o sabiá?
Só o sabiá?


26/12/09

sábado, 3 de outubro de 2009

Todo amor desafia o destino.
E se acaso o nosso lhe ficar muito à vista
Contra quem o destino invista
Que poderemos fazer?

Se a eternidade de nossas juras afrontam os deuses
E pela fresta o aquém nos zomba
Se tem pressa o pavio de bomba
Que poderemos fazer?

Mesmo que venham novos amores
E que eu esteja de ti muito longe
Ainda que a vida nos mostre o contrário
No fundo do peito
Num canto de armário
Estaremos nós, minha amiga
Por mais que eu não mais te diga
Te amo,
Eu te amo.

Se cuide se um dia eu não estiver mais aqui
Para te defender
Sabe como é o mundo,
E eu não virei num segundo
E nem ao lugar mais fundo
Em que o relógio possa ir.

Mas um grande amor nunca passa
Pois depois dele se entende a graça
De ser do que se foi.
Só depois,
Bem depois.

Set/ 2009

terça-feira, 2 de junho de 2009

VALA-COMUM

Se eu morrer e não houver onde enterrar
Que me juntem a tantos outros.
Ali o que menos se cultiva é a vaidade,
E tão pouco há respeito
Ou a quem se falte.
Não quero as lembranças seguidas de flores.
Não quero mais ter meu lugar.

10/09/08

sexta-feira, 10 de abril de 2009

o sol escurece a vista
a lua ilumina a estrada.
não preciso dizer mais nada.

segunda-feira, 2 de março de 2009

POEMA CURITIBANO nº 25 - Marechal

A não ser teu caminho
Onde pulsa o habitável
De teu frio coração,
Tudo teu é teu resto:
Todo teu mar vermelho e aberto
no concreto,
Tudo menos
Tua própria romaria
No dia em que uma moderna catedral
jogada aos anjos tortos estaria -
Como pérolas aos porcos
Levantada ela seria
Em silêncio vertical
Tão altiva e solitária
Como belas e foscas medalhas
Que despontam em uma velha farda
De um falecido marechal.

24/06/08

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

POEMA CURITIBANO nº23 - CRUZ MACHADO

diante da cruz floresceu o pecado
não queria luz quem se fez machado
e quem não te conduz, mesmo em frente a ti pregado
em nome de Jesus, foi te olhar de lado

24/08/07

POEMA CURITIBANO nº9

Passo com pressa
Poetas patetas
Palhaço sem graça
Criança descalça
Bondinho encalhado
Progresso avançado
E o punk me pára
Pedindo um pilinha
Pra uma pinguinha
Pedi o panfleto?
Panfleto me pede
Que pague a prazo
Em 30 parcelas
E é só no futuro
Que paga a primeira
Vou lá na feirinha
Comer pierogue
O piá me pedindo
- Te pago pamonha
E o outro pulando
De ponta
Pelado com o pinto pra fora
Naquela piscina
Pinga na moça
Que come pinhão
E a moça já puta
Me chama a polícia
E pede a prisão
- Prisão preventiva
Praquele pivete
Que pode pegar
Qualquer dia desses
Uma faca de ponta
E põe no meu peito!
Eu passo apressado
Pra não me pegarem
Com aqueles moleques
To frito se pegam.
Passei da polícia
E passo na frente
De um outro palhaço
Que agora me segue
Me faz de piada
Pra que todo povo
Me mande risada
Prefiro que riam
Mas fico sem graça.
Me param de novo
Pedindo que faça
Cartão lá da loja
- Não quero querida
- Não vai pagar nada
- Não tenho mais grana
-Cartão é de graça
-Já to no Serasa
-Responda a pesquisa
-Não quero querida,
Só quero ir pra casa.
Agora me diga
Poeta Paulo
Passando na rua
O que pensaria
Onde tudo pulula?
Se andava e pensava
De certo pirava.

17/10/05

POEMA CURITIBANO nº 25

a Boca
é a boca banguela
e tão velha
de tão matutina
dos velhos democratas safados
de mal-dizer rendeiro
banhado a cafeína.

2007

POEMA CURITIBANO nº18

Sol de inverno
Azul nos vãos eterno
Gostoso frio do inferno
Curitiba é muito linda
Em poemas de caderno.

20/04/06

POEMA CURITIBANO nº 20 - SOL DAS 5

sol das 5
sem afinco
refletindo
nos vidros
dos prédios
sobrando
no zinco,
do influxo
das pessoas
(sem apuro)
e dos lucros
sol ausente
que se esconde
bem abaixo
de uma linha
de horizonte
de concreto
sol secreto
em gramas
em parques
e em varandas
de roupas
que não secam mais
hoje
bem longe
do centro
sol das 5
vai indo
vai
na noite
diluindo;
um sol da XV
já mais calma –
não é que ela quase tem alma?

10/05/06

POEMA CURITIBANO nº10

De dia as pedras do chão do largo se calam.
Escondem a noite.
Quem resta se vai ou cai
Como pedra
Bêbado,
Que como pedra
Cala.
Não fala da noite
Nem mesmo sem
Nexo em
sua fala.
O largo se volta,
Se olha em seu centro,
Por todos os lados
Parado no tempo
E esconde do vento
O que fica parado.
A todo momento
Centrífuga a dentro,
Presente e passado.

27/10/05

SANTOS ANDRADE – ou, OS POMBOS

a Raimundo Correia

Por ora creio que estes pombos são monárquicos,
Pelo menos no que se refere às suas cagadas reais
Nas efígies republicanas de nossas praças -
Símbolos máximos nacionais,
Gênios de nossa raça.
Que diria o Victor ou a Júlia
Cujas cabeças, outrora enaltecidas,
Servem hoje de urinol de suas majestosas vazadas amanhecidas.
E nem mesmo Tiradentes,
Marechal ou presidente
Os mal-criados poupam
E cagam solenemente!
E nada mais radical
Que esta revoada matinal
Dos pombos da Santos Andrade
A cagar em todo o pessoal –
Vivo, morto, puta, padre –
Que se atreva a uma praça central.
Quanto a tu, Universidade,
Teu passado é visceral!
Outrora foras monturo –
Não que hoje o tenhas negado –
Mas nem intelectual apontando o futuro
Deixará de ter seu busto cagado
Por um pombo marginal.
Da Júlia, o avental;
No Victor, da testa à fossa nasal;
Do pombo,
O diâmetro do rombo
De seu orifício anal.

17/11/04